domingo, 2 de agosto de 2009

Livro de Artista

A relação dos artistas com o livro é tão antiga como o próprio livro. Nos manuscritos medievais esta relação está expressa nas iluminuras que o copista-artista criou para ilustrar o texto que copiava. A invenção da imprensa reduziu a intervenção do artista na realização do livro. Este afastamento provocou a reação de artistas como o pintor e poeta inglês William Blake que, em livros como Songs of Innocence (1789), tentou retomar a intervenção direta e o controle do artista sobre o processo de concepção e produção final do livro. No século 20, o desenvolvimento das técnicas de reprodução, como a litografia e fotogravura, contribuiu para que os artistas colaborassem ativamente na realização de livros, como por exemplo o pintor francês Pierre Bonnard, cujas litografias ilustraram poemas de Paul Verlaine numa obra publicada em Paris em 1900. Aliás, nas primeiras décadas de Novecentos, o livro foi um dos suportes privilegiados da colaboração entre os artistas plásticos, os escritores e os poetas na divulgação de novas ideias e novos princípios estéticos. Nas décadas de 60 e 70, o livro passou a ser utilizado pelos artistas das vanguardas, como suporte e meio de experimentação, dando expressão aos seus desejos de ruptura artística com o passado.

Este longo relacionamento dos artistas com o livro leva a que definição do que é um livro de artista nem sempre seja fácil e unânime. Tanto se considera livro de artista qualquer livro que contenha uma intervenção de um artista, como se exclui desta categoria aqueles que reproduzem apenas as suas obras, ou que versam sobre a sua vida ou que têm ilustrações suas. Ultimamente, contudo, tem-se considerado que o que distingue os livros de artista dos outros, é a utilização do livro como suporte dum projeto artístico específico, não restringido ao papel e tinta, mas incorporando todos os tipos de materiais que o artista desejar utilizar. Por outro lado, estes objectos têm balançado entre a criação única ou a realização de edições muito reduzidas e uma espécie de última consequência do pressuposto de reprodutibilidade mecânica da obra de arte enunciado por Walter Benjamin em 1936 e aplicado no livro Twentysix Gasoline Stations 1962, do artista conceitual americano Edward Ruscha que conheceu, em 1963, uma edição numerada de 400 exemplares.

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